O simbolismo das catedrais

17/05/2024

O SIMBOLISMO DAS CATEDRAIS

Queridos irmãos e irmãs, como todos nós sabemos, existem conhecimentos e verdades que estão por trás de um simbolismo expresso nos mitos, nos contos e em toda a Bíblia. Hoje iremos tratar dos simbolismos que estão por trás das construções das Catedrais durante a Idade Média. Como sabemos, a Idade Média foi marcada pela perseguição da inquisição e, por isso, o simbolismo se tornou mais forte como forma de propagar e preservar certos conhecimentos que até então não eram permitidos pela Igreja. As catedrais de uma forma geral no período medieval eram construídas praticamente em dois modelos, seguindo a arquitetura românica e a arquitetura gótica. A arquitetura românica é voltada mais para o início da Idade Média e expressa mais uma introspecção, um olhar para dentro, leva o homem a olhar para dentro do seu coração, ao passo que a arquitetura gótica se projeta para fora, para o alto, para os céus, leva o homem a olhar para o cosmos e suas leis.

A intenção através da arquitetura usada na construção das catedrais era a de manter a tradição dos conhecimentos, manter a harmonia com as leis da natureza, proporcionar um ambiente de ligação entre a Terra e o céu e, ao mesmo tempo, através de uma linguagem simbólica, preservar tais conhecimentos. Nada era construído aleatoriamente, tudo era minimamente pensado e calculado. O simbolismo ainda ia além, é possível encontrar símbolos alquímicos nos vitrais que expressavam a transmutação humana (relembrando que o objetivo da alquimia não era somente a transmutação dos metais, de transformar chumbo em ouro), era mais um simbolismo que expressa transformar o "homem-chumbo", rude, bruto em "homem-ouro", polido, virtuoso e espiritualizado. Assim, eles conseguiam preservar todos os conhecimentos indianos, maias, astecas, gregos e romanos que tinham. Todas as construções eram edificadas em plena harmonia com esses conhecimentos e, ao mesmo tempo, com a matemática, a natureza, os alinhamentos com as constelações, sua localização e estrutura em consonância com os equinócios, de forma que a luz do sol se projetasse em pontos específicos em determinada época do ano dentro da Catedral.

Irmãos, tenhamos em mente que desde os primórdios da humanidade o homem vem observando e estudando as leis da natureza, e todo esse conhecimento era passado de gerações a gerações. Já era de conhecimento destas tradições que tudo na natureza vibra (pulsa), toda a natureza se expressa em ritmos. Assim, quando se construíam as catedrais, os construtores tentavam de toda a forma reproduzir estes ritmos da natureza e do universo. É impressionante como eles reproduziam piamente todas as leis da natureza macrocósmica em uma escala humana. Por isso, fica fácil entender porque em certas catedrais as mesmas possuem uma acústica formidável, pois elas foram justamente construídas para vibrarem de acordo com a expressão do coração do homem, que é um microcosmos intimamente ligado ao macrocosmo. Havia essa preocupação para que todas as ações humanas fossem realizadas em harmonia com as leis cósmicas (leis da natureza). Podemos dizer então que as catedrais sintetizavam, de certa forma, todas as leis do cosmos dentro de seu espaço arquitetônico. A catedral era construída para ser uma ponte de ligação entre o céu e a terra.

Para os construtores medievais, construir uma Catedral era como recriar o universo. Toda a obra era conduzida como uma grande cerimônia, afinal estavam espelhando em baixo o que estava em cima. Todas as obras de construção das catedrais eram realizadas em seis etapas, de modo que se manifestasse o divino na Terra assim como foi nos seis dias da criação do universo.

Como dito, as construções das catedrais eram feitas em seis etapas, simbolizando os seis dias da criação. As etapas eram:

> Primeira etapa: Escolher o local de construção da Catedral, que era muito importante, pois deveria estar alinhada com certas constelações e ainda com a incidência solar.

> Segunda etapa: Era a fixação do "Eixo Vertical" que era o centro, o ponto central da construção, o ponto onde o templo iria tocar os céus. A partir deste centro eram demarcadas as demais áreas da catedral conforme à sombra projetada pelo sol sobre esse eixo central.

> Terceira etapa: Era a orientação da obra, ou seja, demarcar todos os pontos referenciais: leste, oeste, sul e norte. Esta demarcação era feita seguindo o ritmo solar.

> Quarta etapa: Determinar os quatro pilares básicos da cátedra, a estrutura principal para construção de toda a estrutura geométrica da catedral.

> Quinta etapa: Era a fase da construção em si, que parte do modo geométrico traçado anteriormente.

> Sexta etapa: Era a consagração da Catedral a um rei ou alto clero da Igreja, ou ainda a consagração a um santo.

Um outro ponto simbólico muito importante é o fato de que a catedral objetivava recriar através de seus espaços internos todos os ciclos do universo (ciclo do dia, do ano, da vida, da manifestação do cosmos, etc). Cada um dos quatro cantos da catedral representa um simbolismo profundo:

A cúpula leste da catedral, onde fica o altar, simboliza o começo de um ciclo, o sol nascente, a infância, o nascimento, a primavera (onde tudo floresce).

A fachada sul da catedral é a parte na qual recebe a luz do sol durante todo o dia, assim ela simboliza a manifestação, a matéria, a plenitude da vida, o dia, o mundo manifestado, a Terra, o verão.

No oeste se encontra a porta de entrada da catedral, é onde fica o sol poente. Simboliza a velhice (final do ciclo), outono (que é a passagem pro inverno), simboliza o final dos tempos. Quando se entra na Catedral pelo Oeste, que simboliza o fim de um ciclo, refere-se também que ao entrar na Catedral está se terminando um ciclo Terrestre e entrando em outro Celeste, pois a Catedral simboliza a porta de entrada que leva até Deus.

E por fim temos o lado norte da catedral que simboliza o mundo espiritual, refere-se ao mundo oculto, o mundo celestial, simboliza a morte, representa à noite, simboliza o céu (o oposto do Sul que simboliza a terra).

Outro simbolismo presente nas catedrais góticas e que talvez seja um dos simbolismos mais profundos é o labirinto, muito comum ao entrar em uma catedral, no piso estar pintado um labirinto. O labirinto simboliza a perda, o homem perdido na matéria que precisa ascender aos céus. O labirinto representa justamente a necessidade da descida do homem aos planos inferiores, o inferno de sua própria vida (enfrentar seus próprios demônios), de onde ele possa renascer. Simbolismo este que está intimamente relacionado à iniciação, morrer para o mundo material e renascer no mundo espiritual. Ao entrar na Catedral, além de ser uma referência a entrar no plano espiritual, é entrar também dentro do próprio corpo, o verdadeiro templo.

Finalizando nosso estudo, cabe ressaltar também que surgiram nesta época grupos de construtores que se dividiam em hierarquias e formavam fraternidades. O interessante é que eles, além de construírem todos os templos de forma que o homem pudesse se aproximar de Deus, também trabalhavam na sua própria construção interna (alquimia interna). Ou seja, eles, ao edificarem as catedrais, também trabalhavam na edificação do templo interior. Todo esse processo de edificação interior é tido como edificar o sagrado dentro de si próprio. Meditemos sobre estas palavras...


Fr. Luiz Heleno T. Chaves